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É comum em várias áreas, e não só na Educação Física, ouvirmos a necessidade de motivarmos as pessoas. Como se bastasse motivá-las para que todos os problemas de comprometimento, engajamento, desempenho, dentre outros – sejam solucionados.
Por que a motivação é mais importante do que outras variáveis psicológicas?
Ou nos esquecemos da ansiedade, da agressividade, da alegria, da tristeza, da resiliência, do estresse, dos estados de humor, da raiva, da tomada de decisão, isto é, o cenário é complexo e multidimensional. Os estudos contemporâneos têm limitado o que chamamos de estudos unidimensionais. Os estudos que tratam de uma variável isoladamente, sem detalhar e analisar as variáveis que compõem o contexto do estudo, assim como, de que forma outras variáveis psicológicas apresentam seus resultados de forma interrelacional.
É consenso na ciência que a análise unidimensional é um limitante para a compreensão de sistemas complexos, dos quais os fatores biopsicossociais fazem parte.
Então por que essa fixação na motivação?
É comum utilizar-se da motivação como tábua de salvação. Temos um problema e, então, precisamos fervorosamente motivar as pessoas envolvidas.
Gostaria de fazer uma outra pergunta:
Onde está escrito que a motivação é superior as demais variáveis na vida do indivíduo?
Uma simples busca nas redes sociais e nos metabuscadores e nos depararemos com toda a sorte de receituários e de propostas de trabalhos motivacionais. A palavra virou um mantra. Aliás, quem disse que é fácil trabalhar a motivação? Quando Ryan e Deci, em meados da década de 80, publicam a Teoria da Autodeterminação (TAD), em que o modelo de motivação clássico com duas dimensões: motivação intrínseca e extrínseca, é demolido.
E nos dias atuais é a teoria dominante quando se trata de motivação. O que exatamente eles fazem é olhar os processos motivacionais de forma mais ampla e complexa.
Novamente uma nova pergunta:
Os professores de Educação Física em qualquer campo de atuação utilizam-se desse conhecimento nos seus trabalhos? Dominam como a motivação interage, influencia e é influenciada pelos demais fatores? Que as variáveis psicológicas como outras variáveis do nosso cotidiano, podem ser tanto causa como consequência?
Pois, pelo discurso do senso comum, a motivação sempre é causa. A motivação alta pode prejudicar o desempenho tanto quanto um baixo nível de motivação e que o cerne está em encontrar a melhor forma de trabalhar o indivíduo. Interessante que mesmo em alguns trabalhos com a TAD, ela é tratada com um peso maior do que outras variáveis.
Essa parcialidade resultará inexoravelmente em resultados parciais, regularmente consistentes, ou teremos de apelar as nossas crenças irracionais para sustentarmos que os resultados são adequados e relevantes.
Resumidamente, teremos de acreditar que deu certo!
O que quero com esse texto é provocar os leitores a irem além. Buscarem uma imersão maior, que consigam colocar num tabuleiro lógico uma diversidade de variáveis que podem e regularmente afetam o desempenho do indivíduo, sejam na escola, no trabalho, na academia, no clube, em casa. Aumentando a possibilidade de êxito e de conseguir efetivamente causar boas mudanças para o desempenho.
Pois, só pela motivação não é viável.
*Flávio Rebustini é Doutor pela UNESP/Rio Claro. Membro do LEPESPE – Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte/UNESP-RIO CLARO. Coordenador da Especialização em Psicologia do Esporte da Universidade Estácio de Sá.
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