terça-feira, 27 de junho de 2017

FALTA DE EXERCÍCIO FÍSICO PODE “TRAVAR” O RELÓGIO BIOLÓGICO

Descobertas sugerem que, ao influenciar os nossos relógios biológicos, o exercício pode ajudar o nosso corpo a reconhecer os melhores momentos para nos movimentarmos e quando deveríamos ficar parados.


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O exercício físico pode afetar como e quando nos movimentamos, mesmo quando não estamos a exercitarmo-nos, segundo um estudo fascinante realizado com camundongos. As descobertas sugerem que, ao influenciar os nossos relógios biológicos, o exercício pode ajudar o nosso corpo a reconhecer os melhores momentos para nos movimentarmos e quando deveríamos ficar parados.
A maioria das pessoas já ouviu falar em ritmos circadianos. O batimento do coração, as hormonas, a fome, estado de alerta, digestão, fadiga e outras funções corporais agem em ciclos regulares num cronograma que é previsível e sincopado, mas que mudam em função das circunstâncias.
Porém, provavelmente poucos percebem que a atividade física, em pessoas e na maioria dos animais, igualmente costuma seguir um amplo padrão circadiano.

De maneira mais óbvia, dormimos à noite, quase sem mexer, e somos ativos durante o dia.
Entretanto, também durante o dia, a atividade física geralmente mostra certos padrões, embora mudem perceptivelmente com a idade, apontam pesquisas recentes.

De acordo com o estudo de 2009 publicado em Proceedings of the National Academy of Sciences, cientistas pediram a jovens adultos e idosos para usarem monitores de atividade durante uma semana enquanto viviam normalmente e depois fizeram gráficos dos movimentos de cada voluntário durante 24 horas.

Os gráficos mostraram que os jovens movimentavam-se bastante durante o dia, com picos nas suas atividades. Os padrões não eram muito consistentes; alguns dias, alguém pode sentar-se e mal se mexer no início do dia e, noutros, a pessoa pode movimentar-se de manhã cedo e aquietar-se depois.
Porém, concluíram os cientistas, havia em geral uma lógica interna do movimento. Se alguém ficava parado por algum tempo, começaria a movimentar-se; e se alguém havia-se movimentado ou exercitado bastante, descansaria por um tempo porque, presumivelmente, o corpo ainda estava fisicamente excitado, mas depois ficaria parado.

Em essência, o corpo dos jovens parecia de se lembrar e reagir ao que aquele organismo estivera a fazer, tanto ficar sentado como se movimentar, e depois calcular uma nova resposta apropriada: movendo-se ou sentando-se. Ao agir assim, o corpo, no entender dos pesquisadores, criava um padrão circadiano dinâmico e saudável.

Curiosamente, esses padrões dinâmicos de movimentos nos jovens eram muito semelhantes aos vistos em animais de laboratório jovens e saudáveis, disse Frank A.J.L. Scheer, professor assistente da Faculdade de Medicina de Harvard e diretor do Programa de Cronobiologia Médica do Hospital Brigham and Women’s, Boston, que supervisionou o estudo, sugerindo que existem imperativos biológicos sobre os padrões de movimento mesmo para quem tem vidas modernas «atreladas» aos escritórios.

Todavia, as «memórias» desses padrões foram reduzidas drasticamente com a idade. No estudo de 2009, idosos mostravam menos movimento durante o dia e mais movimento aleatório à noite. Estavam parados quando provavelmente deviam estar a movuimentar-se e inquietos quando deviam ficar parados. Em geral, os padrões de movimentos tornaram-se mais fortuitos, disse Scheer.
Não está claro, contudo, se essas mudanças indesejadas foram causadas unicamente pelo envelhecimento ou também por outros factores. Então, para o novo estudo, também publicado na PNAS, Scheer e os colegas, incluindo Kun Hu, de Harvard, e Johanna Meijer, da Universidade de Leiden, na Holanda, agruparam camundongos de idade variada, de jovens adultos (seis meses de idade) a quase anciãos (dois anos) e instalaram-nos em gaiolas equipadas com sensores infravermelhos que monitorizavam continuamente a atividade física.

Também lhes deram brinquedos, pois os exercícios podem aumentar drasticamente a diferença entre atividade e tranquilidade e têm muitos efeitos no organismo, influenciando o movimento diário.
Eles deixaram os animais à vontade durante um mês.

Sem surpresas, os camundongos jovens, que correram bastante, desenvolveram rapidamente picos e vales de atividade, com demarcações claras entre os movimentos associados ao dia e à noite.
Os animais idosos tinham padrões semelhantes, mas pouco claros.
Depois, os cientistas retiraram os brinquedos.

Numa questão de dias, todos os animais começaram a mostrar padrões mais aleatórios de movimento. Eles podiam começar a correr repentinamente dentro da gaiola durante aquele que deveria ser o seu período tranquilo ou a agacharem-se imóveis quando deveriam estar activos.

De forma interessante, os padrões dos camundongos jovens e idosos eram muito mais parecidos do que antes.
Segundo Scheer, a descoberta sugere que o exercício afecta mais os padrões de movimentos diários do que a idade. Ao tirar o brinquedo do roedor jovem o seu padrão de atividade será mais semelhante ao de um idoso.

Entretanto, assim que os cientistas reintroduziram os brinquedos nas gaiolas, jovens e idosos voltaram a exercitar-se, recuperando os antigos padrões de movimentos saudáveis. Camundongos idosos tinham alguns picos e vales, enquanto os jovens tinham muitos.

Por definição, o exercício influencia quanta atividade alguém completa durante o dia. Porém, Scheer e os seus colegas pesquisadores acreditam que algo mais profundo e mais interessante também acontece com o exercício. Este afecta o mecanismo do relógio biológico do corpo e, portanto, os ritmos circadianos, principalmente os ligados à actividade, podendo manter os padrões saudáveis mesmo com a idade.

De acordo com ele, ao incentivar a libertação de uma ampla gama de compostos bioquímicos no corpo e no cérebro, o exercício quase certamente afeta o relógio biológico e, dessa forma, os ritmos circadianos, principalmente os ligados à atividade. O exercício parece tornar o organismo mais capaz de julgar quando e quanto é preciso movimentar-se ou descansar.

O estudo foi de curto prazo, envolvendo camundongos e não pessoas, e não foi pensado para identificar como o exercício pode afetar o relógio biológico, ressaltou Scheer. Contudo, sugere que, entre as suas muitas virtudes, o exercício melhora o ritmo das nossas vidas.

Matéria publicada no site Diário Digital 

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