O overtraining, quando o exercício é excessivo, é cada vez mais comum para aqueles que buscam saúde e corpo saudável por meio da atividade física. Lesões mais severas, que incapacitam, ocorrem na coluna, joelho e ombro, nessa sequência, sendo a mais comum a lombar.
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Na busca da superação, do corpo ideal e até pensando na saúde, muitas pessoas passam do ponto e se machucam pelo excesso de exercício.
O overtraining, quando o exercício é excessivo, é cada vez mais comum para aqueles que buscam saúde e corpo saudável por meio da atividade física. Muitos passam da medida, as lesões ocorrem e o destino é a busca da reabilitação nas clínicas de fisioterapia. Ricardo Carneiro, fisioterapeuta do Núcleo de Excelência em Fisioterapia (NEF) e professor de educação física da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), diz que o principal erro das pessoas é “ir além do limite, como se fossem viciados em endorfina, encefalina, drogas (neurotransmissores) que agem como analgésico e com efeito de bem-estar. Quem tem quer sempre mais e mais”. Além disso, ele ressalta que outro risco de lesões está na estética, “o que faz um grupo se submeter a carga de treinamento intensa. Somada a isso, tem ainda a questão mercadológica, com exercícios da moda, de alta intensidade, praticados em grupos que ultrapassam limites, que não respeitam o principal numa atividade física: a individualização. Muitos, por estímulo, para não passar vergonha, ultrapassam seu limite para estar no grupo, outros buscam bater os próprios limites e uma terceira categoria se preocupa com o lado social, de ser valorizado na sociedade e satisfazer sua vaidade”. Tudo isso leva ao exagero, e o corpo sofre as consequências, se lesiona.
Lucas De Paoli, fisioterapeuta da All Sports Reabilitação Esportiva, no Ponteio Lar Shopping, pós-graduado em fisioterapia esportiva pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), acredita que grande parte da população que pratica atividade física busca saúde e/ou um corpo que satisfaça os critérios de beleza. Mas nem todo mundo se prepara para o início de uma prática segura. “É comum o indivíduo que nunca fez sequer uma caminhada regular resolver correr e sobrecarregar o sistema músculo-esquelético predispondo o corpo às lesões.” Ele conta que existe ainda uma parcela dessa população que vem crescendo: os praticantes que buscam performance. “Esses têm que redobrar a atenção na fase que chamamos ‘pré-participação’. Em um ‘mundo ideal”, todos deveriam se submeter a uma avaliação fisioterápica individualizada, onde seria possível detectar os fatores que colocariam essa pessoa em risco para determinadas lesões. Seria possível, identificar os pontos fracos e fortes e, a partir disso, reduzir o risco de lesões e potencializar a melhora de performance, fazendo com que ele alcance todos os objetivos traçados.”
Ricardo Carneiro explica que as lesões mais severas, que incapacitam, ocorrem na coluna, joelho e ombro, nessa sequência, sendo a mais comum a lombar. Mas vai depender da atividade. Nos corredores, por exemplo, é comum a fratura por estresse. No entanto, o fisioterapeuta ressalta que a eficácia do tratamento evoluiu muito, principalmente a forma de diagnóstico por causa das imagens, quando é possível saber a estrutura lesada. “A partir do diagnóstico é tratar, corrigir e minimizar os problemas biomecânicos.” Ele enfatiza o valor da fisioterapia, que age tanto em nível preventivo quanto atua no problema biomecânico. O profissional tem como dizer a melhor técnica de corrida, como é a pisada, se o paciente precisa de reforço muscular ou de buscar o equilíbrio por meio de exercícios preventivos. Pode orientar crianças que praticam esporte, saber as exigências musculares e até mesmo indicações estruturais.
Apesar de tantos benefícios, Ricardo reconhece que quem depende do Sistema Único de Saúde (SUS) é complicado. “O volume é grande e muitas vezes há dois fisioterapeutas para 50, 100 pacientes. O tratamento fica monótono, não tem o envolvimento que deveria e não consegue um resultado eficaz. A culpa é do sistema. A remuneração do fisioterapeuta é ruim e ele precisa trabalhar em vários lugares. No fim, melhor para quem paga por atendimento diferenciado. E o problema é que não é só a fisioterapia, o paciente precisa entender que, em muitas casos, o resultado só virá com mudança de hábitos de vida, como alimentação e posição para dormir.”
Já Lucas De Paoli alerta que o tratamento deve atuar na causa do problema identificado a partir da avaliação, seja ela fisioterápica, médica ou mesmo com o auxílio da acupuntura. “O importante que é seja um acompanhamento voltado para as características próprias do indivíduo e não atue somente para a melhora dos sintomas, mas que trate a causa da lesão. Atualmente, todos os profissionais da área da saúde têm que ter o foco para a prevenção. É a chave para conseguirmos melhorar o panorama e desafogar o sistema que não está comportando o número de pacientes. A população encontra dois tipos de serviço: os atendimentos por planos de saúde e os particulares. Existem bons profissionais atuando em ambos os campos. O diferencial do tratamento (individualizado) em clínicas particulares é a rapidez com que o indivíduo relata ausência de dor e retorno à sua atividade. Esse tipo de serviço de qualidade deveria ser oferecido a todos, mas infelizmente não é a realidade do país.”
INOVAÇÕES
Com cursos na área de ortopedia e reabilitação esportiva, entre eles o de EPI®, sigla de Eletrólise Percutânea Intratissular, Lucas De Paolil ressalta que essa é uma técnica “inovadora e desenvolvida pelo fisioterapeuta do FC Barcelona – ESP José Manuel Sanchez, em 2000, que consiste em aplicar uma corrente galvânica, associada a uma microcorrente, no tecido lesado, e utilizada na All Sports. Ela foi desenvolvida para tratar lesões crônicas em tecidos moles (tendões e músculos), que têm como característica apresentar um tecido pouco irrigado e vascularizado, onde predomina o processo degenerativo. Após a aplicação da EPI®, o tecido lesado começa a receber fluxo de oxigênio e nutrientes novamente, favorecendo a aceleração da recuperação do tecido lesado. Os resultados são vistos em tendinopatias e lesões musculares. O EPI® é apenas uma ferramenta a mais que temos para tratar o tecido lesado e uso deve ser aliado a outros recursos fisioterapêuticos como as terapias manuais e cinesioterapia”.
Ricardo Carneiro lembra que, entre tantos equipamentos e armas aliadas dos lesionados, há uma máquina de compressão (normatec), usada por jogadores de futebol e de basquete da NBA, que age como “uma bolsa de ar, que o paciente veste, e tem a sensação de uma massagem. A musculatura será comprimida para acelerar a recuperação de fadiga pós-jogo ou treinamento extenuante”. Há ainda outro aparelho, termografia, que “analisa a temperatura do corpo por meio da radiação infravermelha e mostra a área com atividade metabólica aumentada, que tem risco de lesão (pode vir a ser um estiramento no futuro) e assim o atleta pode se poupar”.
Como esses, há exames simples de laboratório (exemplo: ck creatina quinase) que podem prevenir lesões e pôr um ponto final nos exageros, fazer com que a pessoa dose a atividade e fique somente com o ganho saudável do exercício.
Matéria publicada no site Correio Web
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