A ditadura da estética e a busca obsessiva pelo corpo ideal fazem com que dietas extremas e rotinas pesadas de exercícios físicos sejam cada vez mais comuns. Essa perseguição implacável às formas perfeitas, no entanto, muitas vezes entra em conflito com a própria saúde, já que um regime com baixíssima ingestão calórica e a sobrecarga física podem ser perigosos para o corpo. Afinal, se sobram alguns quilos e falta tempo, o que é melhor e mais saudável: exercício ou dieta?
A ciência aponta que a atividade física, além de ser mais cômoda, é mais importante para a nossa saúde que o peso corporal. Um estudo feito pela Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e publicado pela revista American Journal of Clinical Nutrition aponta que a falta de atividade física é duas vezes mais letal que a obesidade. Os investigadores analisaram 334.161 cidadãos europeus e concluíram que evitar o sedentarismo reduziria o risco de morte em 7,35%, enquanto ter o Índice de Massa Corporal (IMC) inferior aos níveis de obesidade diminuiria 3,66% do perigo.
O endocrinologista Ronaldo Arkader, da clínica de medicina esportiva paulistana CareClub, sugere que a metodologia das pesquisas científicas seja analisada com critério antes de ser encarada como verdade absoluta. Para ele, é perigoso que obesos ativos sintam-se “confortáveis” nessa condição apenas pelo fato de praticarem esportes. A combinação entre o exercício físico e a alimentação desregulada não garante a ninguém uma vida realmente saudável.
“A pesquisa inglesa representa um trabalho relevante, mas temos que avaliar o recorte dela e todas as variáveis que envolvem o assunto. O que não podemos recomendar é que o obeso continue obeso. Um obeso tem o corpo ‘inflamado’ com a produção de substâncias deletérias para o organismo. É uma pessoa que sente mais dor, tem mais doenças e produz mais radicais livres. Sempre falo para os pacientes que o ideal é o equilíbrio, algo difícil de encontrar nas pessoas hoje em dia”, diz Arkader.
O médico recomenda que as pessoas tenham mais paciência na busca pelo emagrecimento, sobretudo quando os quilos a serem perdidos não envolvem a necessidade de procedimentos cirúrgicos.
“É recomendável iniciar essa perda de peso com calma, unindo atividade física e dieta. Colocar uma pessoa em uma dieta hipocalórica e restringi-la de fazer atividade física traz um emagrecimento rápido que não se sustenta, porque essa pessoa, cedo ou tarde, vai acabar voltando a comer algo que foge daquilo que foi recomendado naquele regime extremo. A pergunta que eu deixo é: os fins justificam os meios?”, diz, questionando a tese de que vale tudo para conquistar o emagrecimento e o corpo desejado.
SER MAGRO NÃO É SINÔNIMO DE BOA SAÚDE
Em 2016, Mariana Marçal, 24 anos, funcionária de um grupo operador portuário, notou em seus exames que seu peso era baixo, porém seu percentual de gordura era alto. Seu desejo era perder algo em torno de 8 kg e a jovem, entre sair do sedentarismo e fechar a boca, preferiu embarcar em uma dieta de apenas 600 calorias diárias com o acompanhamento de uma nutróloga. Em 21 dias, alcançou o seu objetivo: chegou aos 55 kg. Meses depois, uma mudança na rotina de trabalho trouxe alguns deslizes na alimentação e, junto deles, o ganho de 5 kg.
Apontado como um dos gurus do emagrecimento em São Paulo, Mohamad Barakat diz que a prática de exercícios físicos costuma vir acompanhada de uma série de cuidados na alimentação, combinação infalível para quem está em busca de emagrecimento e, claro, saúde. Ele ainda alerta que ser magro nem sempre é sinônimo de ser saudável.
“O ectomorfo [classificação corporal de pessoas com membros finos e longos e baixo acúmulo de gordura] acredita que não tem problemas em relação aos alimentos. São pessoas que estão se entupindo de produtos industrializados e bebendo refrigerante, gerando uma inflamação silenciosa do próprio corpo há muitos anos. Como essa pessoa é magra e tem a ‘permissão’ da sociedade para comer o que bem entende e não praticar esportes, vai acumulando gordura na circunferência abdominal, que é a mais perigosa”, afirma, acrescentando que “merecer estar magro” – ou seja, ter os cuidados necessários com o corpo, seja na prática de esportes ou na escolha do que será ingerido – é o caminho a ser trilhado por quem deseja uma vida longeva.
Em contrapartida, há pessoas acima do peso que não têm problemas diagnosticados em exames, o que não quer dizer que não possam sofrer com problemas futuros com relação à saúde. “Muitos gordinhos que passam na minha clínica têm exames incríveis. O exame é uma fotografia instantânea daquela fase. A presença de gordura é uma potencial glândula inflamatória, podendo gerar envelhecimento e adoecimento. Se essa pessoa for negligente com a saúde só porque os exames não apontam nada, pode ter problemas no futuro”, complementa.
Fonte: Portal da Educação Física
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