segunda-feira, 30 de outubro de 2017

ESPORTE E SOCIEDADE: COMO PREPARAR O ATLETA PARA LIDAR COM A CARREIRA?

Muitas e muitas vezes são as dinâmicas sociais que não conseguem ser assimiladas pelo atleta de qualquer faixa etária que podem gerar o abandono e desarranjos de desempenho e conduta no ambiente esportivo.


É inegável o papel do esporte e da atividade física na cultura e como forma de representação da identidade de um País, comunidade e/ou grupos sociais. Algumas Cidades, Estados e Países são representados por modalidades específicas, muitas vezes, chamadas de esporte nacional. No Brasil evidentemente temos o futebol, como temos o rúgbi na Nova Zelândia, o Hóquei no Canadá e diversos outros casos de representação. Portanto é uma falha tentar compreender e explicar o fenômeno esportivo sem entender o contexto em que ele se desenvolveu e as dinâmicas sociais que foram responsáveis por isso.

Coakley (1991) desenvolve três fatores que refletem a importância quando tratamos do ambiente esportivo e os fatores sociais que o envolvem: a) A participação esportiva está positivamente associada a um suporte social vindo de pessoas que são importantes para o atleta; b) A relativa influência destas pessoas (pai, mãe, amigos, professores, técnicos e pares) e o extenso encorajamento recebido do sistema social; c) A socialização envolve reciprocidade ou efeito bidirecional no senso de envolvimento entre a criança e o adulto no esporte. O funcionamento adequado dessas dinâmicas são cruciais para o início, permanência e para as diversas fases das transições de carreira existentes no ambiente esportivo.

Podemos ter ganhos imensos na formação da identidade, da moral, da qualidade de vida, da resiliência, da orientação para tarefas, para falar de alguns dos muitos aspectos que podem ser desenvolvidos pelo esporte e atividade física. Do outro lado, como aponta Machado (2006, p. 67) “a procura vertiginosa por clubes e modalidades em evidência propiciam a saltar o fosso que separa as classes sociais, possibilitando alcançar uma ascensão social, levando primeiramente a uma pretensa conquista financeira, status e fama. Nessa ordem, todos os sacrifícios pelos quais os adolescentes têm que passar para conquistar o reconhecimento da sociedade e, com isso, o sucesso profissional, não têm parâmetros: vale tudo para chegar à fama.” Muitas e muitas vezes são as dinâmicas sociais que não conseguem ser assimiladas pelo atleta de qualquer faixa etária que podem gerar o abandono e desarranjos de desempenho e conduta no ambiente esportivo.

Toda a pressão por desempenho e “possibilidade” de ascensão social associada ao que Gallahue e Ozmun (2005) identificam com “uma fase de confrontação com status mutável e com o crescente número de papéis a desempenhar,” pode desencadear dinâmicas fortes que talvez, não sejam suportadas pelos jovens atletas, resultando no abandono do esporte (REBUSTINI; MACHADO, 2008).

É preciso que esse olhar sobre essas dinâmicas por parte dos envolvidos e dos pesquisadores seja pragmática, que os aspectos inerentes a cada um dos contextos envolvidos pela modalidade, indivíduo, clube, cidade e a família sejam profundamente conhecidos. Sem vieses ou olhares que fazem “conta de chegada”, que querem ver apenas o que lhes convêm. Possibilitando que tenhamos leituras mais precisas e intervenções que busquem efetivamente a melhora do ambiente para o desenvolvimento esportivo e que perpasse todo o ciclo vital.

Referências.
COAKLEY, J. Socialization and Sport. In. SINGER, R.N; MURPHERY, M; TENNANT, L.K. Handbook of Research on Sport Psychology, British Columbia, 571-586, 1991
REBUSTINI, F.; MACHADO, A. A. Imediatismo e Performance: incongruências na formação do jovem atleta. In: Machado, A. A. (Org.). Especialização esportiva precoce: perspectivas atuais da psicologia do esporte. 1 ed. Jundiaí: Fontoura, 2008, p. 67-84.
MACHADO, A. A. Psicologia do Esporte: da educação física escolar ao esporte de alto nível. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006
Trecho adaptado do artigo: REBUSTINI, Flávio; MACHADO, Afonso Antonio. Dinâmicas sociais e estados de humor. Motriz: Revista de Educação Física, p. 233-244, 2012.

Flávio Rebustini– Doutor em Desenvolvimento Humano e Tecnologias (UNESP – RC). Coordenador da Pós em Psicologia do Esporte da Universidade Estácio.

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