A moderna concepção de atleta engloba, ao menos, três áreas do
treinamento esportivo: física, técnica e psicológica. Dessa forma, mente e
corpo devem estar em harmonia para que desvios de concentração, foco e atenção
não promovam derrotas ou atuações abaixo dos padrões de treinamento.
Poucas atividades físicas ou esportes
competitivos incluem segmentos tão claros de habilidades mentais quantos as
artes marciais ou esportes de combate. O Kung Fu, por exemplo, exige dos
atletas, altas e bem elaboradas competências de foco, atenção, concentração e
controle de ansiedade. Em algumas derivações dessa Arte Marcial, são exigidas
habilidades igualmente importantes, tais como o reflexo, a velocidade na tomada
de decisão e forças mental e emocional apuradas para que o planejamento tático
e o treinamento físico atinjam os níveis treinados e desejados. A Psicologia
Esportiva oferece técnicas e métodos científicos capazes de auxiliar essas e
tantas outras demandas dos atletas.
Uma performance consistente é um dos
mais difíceis objetivos nos esportes competitivos. Nas artes marciais temos as
demandas de um conjunto de habilidades psicológicas básicas para este
resultado. A saber:
– Auto-controle: necessário para
planejar e manter os pensamentos apropriados, emoções e ações durante o
combate, promovendo inclusive a auto-regulação e níveis mentais adequados para
toda a ação esportiva. No caso das Artes Marciais, quem nunca experimentou
aquela sensação de faltar o gás mental no final de uma luta? Pois bem, a
Psicologia do Esporte é uma aliada para essa e tantas outras demandas.
– Auto-motivação: referindo-se à
disposição constante para o treinamento e esforço, mesmo em detrimento a
demandas externas e de outros.
– Auto-consciência: que
possibilita ao lutador monitorar e reconhecer seu status mental e ajustar
pensamentos e emoções de maneira a otimizar os níveis de ansiedade e ativação
psicoemocional nas mais diversas situações.
– Resistência mental: apresentado no
contexto do esporte como definição primária do plano de ação do atleta em sua
competição. Resistência esta que pode ser treinada e desenvolvida a partir de
métodos científicos e modernos relacionados com o avanço da Psicologia
Esportiva no Brasil.
– Confiança: atitude positiva e de
crença que suas ações serão efetivas em determinada situação. A confiança
aprimorada promove iniciativa e força interior para superar desafios e
dificuldades em treinos e competições.
– Competitividade: como disposição no
esforço para satisfação dos atletas em comparação a outros competidores. O
ímpeto de superar as etapas e as dificuldades para atingir os objetivos
pessoais e esportivos.
– Motivação intrínseca: na capacidade
de focar-se em determinado objetivo, de maneira constante e intensa, tendo como
fonte seus valores internos, pensamentos e desejos.
Esses e tantos outros fatores são
temas de pesquisas e intervenções na Psicologia do Esporte visando o
complemento necessário do treinamento dos atletas. Afinal, corpos fortes e bem
treinados necessitam, via de regra, de mentes a altura de suas possibilidades.
Países como Estados Unidos, Cuba,
Japão, China e várias nações europeias já incorporaram o trabalho de Psicologia
Esportiva com os atletas e equipes de diversas modalidades.
No Brasil, atletas começam a
despertar para a necessidade de priorizar o fortalecimento de aspectos mentais
e emocionais para atingirem desempenhos traçados através de metas e
treinamentos.
Nos últimos anos, houve uma
aproximação marcante dos níveis de rendimento de atletas de todo o mundo. O que
costuma diferenciá-los é a capacidade de foco, autocontrole, confiança e
gerenciamento da concentração competitiva.
E você? Já se deu conta de como os
aspectos mentais e emocionais atuam em seus treinos e lutas?
Texto de João Ricardo Cozac –
Parceiro da Federação Paulista de Kung fu.
João Ricardo Cozac é psicólogo do
esporte. Presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte. Há 22 anos
atende atletas de diversas modalidades em clínica. Doutorando da USP
(Laboratório de Psicossociologia do Esporte). Membro acadêmico da Sociedade
Sulamericana de Psicologia do Esporte. Colunista do site “A Gazeta Esportiva”,
onde assina a coluna “gol de cabeça”. Autor dos livros “Psicologia do Esporte:
atleta e ser humano em ação” (editora Roca) – “Psicologia do Esporte:
clínica, alta performance e atividade física” (editora Annablume) e “Com a
cabeça na ponta da chuteira” (editora Annablume). Professor responsável pelo
curso de formação em Psicologia do Esporte – São Paulo, para alunos e
profissionais de Psicologia e Educação Física
Fonte: Portal da Educação Física
Nenhum comentário:
Postar um comentário